segunda-feira, 15 de setembro de 2008

[ESPECIAL] DC Comics - 70 Anos de Triunfo (Parte 1)






Quando um garoto percebe que está tudo errado com o mundo e se propõe a fazer algo para torná-lo melhor, sente-se rejeitado por uma garota e, sozinho no universo, várias decisões podem ser tomadas. No caso dos jovens Jerry Siegel e Joe Shuster, de Cleveland, Ohio, a decisão deles mudou o mundo para sempre. O que eles fizeram? Criaram o personagem mais significativo, reconhecido e relevante de todos os tempos, dando início a um gênero, uma Era, uma indústria, algo maior em que acreditar, uma força que ressoa até hoje e não pode ser detida. Eles criaram o Superman (Super-Homem), o gênero dos super-heróis, a Era de Ouro dos Quadrinhos, a própria indústria das revistinhas, a crença em que um homem pode voar e fazer qualquer coisa, resultando hoje no conjunto editorial chamado DC Comics, que há 70 anos encanta o mundo com personagens maravilhosos e envolventes.

Historicamente, o processo teve início em 1933, quando Siegel e Shuster começaram a trabalhar idéias em conjunto. Eles se conheceram aos 16 anos, tornaram-se vizinhos e colaboravam no jornal do colégio. Criaram a revista Science Fiction, que no terceiro número apresentou a história "Reign of Superman". Um careca dotado de poderes mentais disposto a dominar o mundo, estava longe do herói que conheceríamos. O termo foi adaptado da obra de Friedrich Nietzche, e já aparecia em algumas revistas do gênero. A segunda versão do que seria um dia o Homem de Aço apareceu como "A Science Fiction Story in Cartoon - The Superman", que nunca foi publicada. Eles continuaram tentando. Quando chegaram à versão de roupa azul e capa vermelha, com o emblema sagrado no peito, a idéia foi recusada por várias distribuidoras de tiras de jornais. Siegel e Shuster não desistiram. Em 1934, o cérebro de Jerry Siegel começou a processar idéias numa velocidade tão grande que ele passou a noite inteira acordado. Shuster colaborou o tempo todo. Material para semanas estava pronto. As cores saltavam aos olhos. A imagem era impactante. Ninguém acreditava. A Grande Depressão imperava. Ameaças surgiam. Alguém comprou a idéia. O Superman foi publicado pela primeira vez em Action Comics 1, junho de 1938, 500 mil exemplares foram vendidos e o mundo mudou para sempre.

Batman surgiu em Detective Comics 27, de 1939, na história “The Case of The Chemical Syndicate”, da autoria de Bob Kane e do desenhista Bill Filger (também roteirista, mas não creditado). O vigilante vestido de morcego surgiu de uma proposta de evoluir o conceito do Superman, invertendo características essenciais. O Homem Morcego atuaria à noite, não teria poderes especiais e suas aventuras adotariam um tom detetivesco e crimes reais. Se para o Superman, Siegel e Shuster buscaram inspiração em heróis mitológicos como Hércules e Sansão, no romance Gladiator, de Philip Willye, Kane e Finger usaram como referência para Batman uma invenção de Leonardo da Vinci, os filmes Cidadão Kane, de Orson Welles, The Bat e Bat Whisperer. O Superman era um salvador cuja história remetia a Moisés. Batman era a pura essência do medo. Personagens coadjuvantes de sucesso proliferaram. Superman teve seu grande amor Lois Lane, como alter ego Clark Kent, o fotógrafo Jimmy Olsen, o vilão Lex Luthor, entre outros. Batman passou a contar com a ajuda do parceiro mirim Robin, e os vilões Coringa e Mulher-Gato logo se tornaram imortais.

Inúmeros personagens das mais diversas editoras proliferaram, mas sem o mesmo sucesso ou criatividade. A DC Comics inovou mais uma vez quando William Moulton Marlston, na verdade o psicólogo responsável pela criação do detector de mentiras, presenteou o mundo com uma super-heroína. Mulher-Maravilha apareceu em All Star Comics 8, de dezembro de 1941. Com influência notável de mitologia grega e romana, os ideais de Diana eram propagar a paz no mundo dos homens. Marlston era um proto-feminista escrevendo para uma audiência masculina, por isso as histórias iniciais mostravam a Mulher-Maravilha delicada e submissa, mas com todos os poderes de um Superman. Flash (Jay Garryck) e Gavião Negro (Carter Hall) surgiram na antologia Flash Comics, de Gardner Fox. O Lanterna Verde (Alan Scott) apareceu em All-American Comics 16, julho de 1940, de Bill Finger. Em 1940, All Star Comics 3 apresentou os maiores heróis do Universo Original reunidos como a Sociedade da Justiça da América.

Os super-heróis não tardaram a alcançar novas mídias. Superman chegou ao rádio num seriado de sucesso em 1940, no qual foram apresentadas as lendárias frases “Mais rápido que uma bala! Mais poderoso que uma locomotiva! Capaz de saltar arranha-céus num único salto! Olhe! Lá no céu! É um pássaro! É um avião! É o Superman!”. Numa das séries em animação mais inovadoras da história, os estúdios de Max Fleisher apresentaram uma visão dinâmica e poderosa do Superman em 1941. Logo foi a vez deas tiras de jornal, brinquedos e produtos licenciados. Batman e Superman chegaram aos seriados de cinema. Não havia limites. Na televisão, The Adventures of Superman estreou em 1951, imortalizando o ator George Reeves. Batman apareceu numa abordagem cômica recheada de subtextos num seriado televisivo em 1966, com Adam West (Batman/Bruce Wayne) e Burt Ward (Robin/Dick Grayson). A primeira batmania chegou aos desenhos e iniciou um fenômeno cultural. No embalo foi a vez da Liga da Justiça alcançar público infantil na forma dos Superamigos.

O Código de Ética dos Quadrinhos mudou tudo. Super-heróis deram lugar a revistas como Young Romance, de Joe Simon e Jack Kirby, Girls Love Stories, A Date With Judy e os gêneros ficção científica (Mystery in Space), guerra (Star Spangled War Stories) e western (Tomahawk). Apenas Superman, Batman e Mulher-Maravilha parmaneciam publicados ininterruptamente.

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